quinta-feira, 3 de maio de 2012

Michel Foucault...por profª Alcilene Rodrigues

4ª aula

Quem é?
O pensador que convidamos para assistir a essas cenas ( do filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin) embora não fosse um sociólogo, marcou o campo das ciências sociais com suas reflexões sobre a relação entre verdade e poder. Seu nome é Michel Foucault (adoro).

 Michel Foucault (1926-1984, Poitier- França) foi um filósofo, historiador, crítico e ativista politíco francês que desenvolveu um método de investigação histórica e filosófica que chamou de genealogia.Examinando a mudança dos comportamentos no ínicio da Idade Moderna, sobretudo nas instituições prisionais e nos hospícios, buscou compreender os processos da produção dos saberes que tornaram possível o controle difuso e não tematizado, que chamou de microfísica do poder. Suas principais obras são História da loucura na Idade Clássica, As palavras e as coisas, História da sexualidade, Vigiar e punir, Microfísica do poder.


                                        
                                                        Michel Foucault
A era do olhar: a disciplina
Outros pensadores investigaram as mudanças decorrentes do capitalismo e do nascimento das fábricas, analisando-se sob outro angulo, o da instauração da era da disciplina. Segundo Michel Foucault, um novo tipo de disciplina facilitou a dominação mediante a "docilização " do corpo.
Para entender a complicada relação entre verdade e poder, Foucault realizou pesquisas sobre temas variados. Um dos pontos em que mais  deteve foi a questão da disciplina. Como homens e mulheres aprendem a se comportar? O que acontece quando não se comportam de acordo com o previsto? Em que tipo de justificativas se baseiam as regras de comportamento? Em que lugares os ensinamentos sobre o que é socialmente aceitável e não aceitável são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados? Para responder a questões como essas, Foucault investigou a origem e o desenvolvimento de várias instituições de controle, entre elas os abrigos, como aquele para onde as pequenas orfãos de Tempos Modernos foram enviadas, e as prisões, como aquela de onde Carlitos não queria sair. Seguiremos Foucault, numa visita por algumas instituições de controle e poder.

Curar e adestrar, vigiar e punir
As transformações trazidas pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa possibilitaram o surgimento de novos hábitos e valores, novas estruturas de pensamento e práticas sociais. Michel Foucault também se voltou para esse momento de profunda transformação, em que as instituições sociais do Antigo Regime cederam o lugar a sistemas de organização inéditos. Seu interesse se voltou, sobretudo, para as condições de surgimento de novos saberes- ciências como a biologia, a economia política, a psiquiatria e a própria sociologia e novos dispositivos disciplinares. A influência progressiva desses novos saberes e a multiplicação desses dispositivos por toda a sociedade levaram, segundo ele, à consolidação do surgimento de um modelo peculiar de organização social: as sociedades disciplinares dos séculos XIX e XX.
Obviamente, mecanismos de disciplina e controle já existiam muito antes do surgimento de saberes como a economia ou a sociologia. Durante o Antigo Regime, nos lembra Foucault, havia critérios que permitiam identificar os individuos que eram capazes de se submeter as normas- os normais e os que não se submetiam as normas, os incapazes de respeitá-las, deveriam receber como castigo a exclusão da vida em sociedade. Nesse grupo dos que eram afastados do convívio com os outros encontravam-se aqueles considerados loucos, maus, doentes ou monstros, qualquer um, portanto que apresentasse desvios de conduta, quer por conta de sua demência, de sua índole, de sua moléstia ou de sua aparência. Ao longo da Idade Média, todos os que fossem tidos como dementes eram confinados na chamada nau dos insesatos, todos os criminosos eram condenados à pena de morte, quaisquer tipo de deformados eram recolhidos aos mosteiros, e os que sofriam de males físicos eram levados a hospitais que na verdade eram "depósitos de doentes".
Foucault lembra também que foi a partir do século XVIII que se iniciou um processo de organização e classificação científica dos individuos, que veio garantir uma nova forma de disciplinar e controlar a sociedade. Cada anormalidade passou então a ser identificada em seus mínimos detalhes por um saber específico a ser encaixada em um complexo quadro de patologias sociais.
Estamos tão acostumados a depender desses saberes especializados e a conviver com os espaços que lhes são próprios que muitas vezes nos esquecemos de quem nem sempre eles existiam. O nascimento da medicina clínica e a criação dos hospital tal como o conhecemos,  surgiram na França em fins do século XVIII, em que pela primeira vez foram expostas regras minuciosas de seaparação dos vários tipos de doentes. O médico e não qualquer curandeiro, passou a ser responsável por essa nova máquina de curar, que lembrava muito pouco aquele depósito de doentes medieval. Se a medicina clássica trabalhava com o conceito vago de saúde e procurava eleminar doença, a medicina clínica passou a ter como foco o corpo do doente e como objetivo trazer esse corpo de volta ao normal.  Surgiram então expressões como temperatura normal, pulsação normal, altura e pesos normais. Esse padrão de normalidade passou a ser um parâmetro para toda a sociedade, é claro que há componentes culturais que determinam variações nesse padrão e a medicina ganhou uma dimensão política de controle.
A ídéia de uma educação que não está a cargo dos pais, e sim do Estado, que é oferecida a todos cidadãos, que tem um conteúdo comum e nessecita do espaço da escola também é fruto dessas transformações de que fala Foucault. Não por coincidência, a escola organizada de acordo com parâmetros pedagógicos é uma invenção do fim do século XVIII e ínicio do XIX. Acreditamos que a escola tem o poder de ensinar porque  tem o poder de saber quais são os comportamentos desejáveis, quais são os conteúdos imprescindiveis e qual é a didática adequada.
O mesmo se dá com o conjunto das instituições de justiça e punição que encontra nas prisões seu espaço de realização. O grupo dos maus, desdobra-se em uma série de subgrupos de personalidades criminosas, que passa a ser objeto de um saber específico: a criminologia. A reclusão por tempo determinado no presídio substituiu, na maior parte dos países, a morte punitiva. Foucault nos lembra que, até o século XVIII, a pena de morte era precedida por um detalhado suplício do corpo, torturas, esquartejamentos, queimaduras, enforcamentos, realizados em praça pública para a glória do soberano. Hoje, mesmo em um estado como o Texa, nos Estados Unidos, onde vigora a pena de morte, vigora também uma série de príncipios que buscam garantir uma morte humanizada para o condenado, sem torturas e humilhações. Acreditamos que o sistema judiciário tem o poder de vigiar e punir(com a pena de morte, se necessário) porque tem o poder de saber distinguir entre os inocentes e os criminosos.
Foucault fez uma arqueologia, uma investigação miniciosa da origem e do desenvolvimento histórico de todos esses saberes: da medicina clínica, da psiquiatria, da criminologia, educação, etc. E não apenas isso como também se encarregou de formular uma crítica incisiva das práticas disciplinadoras de controle e adestramento de cada uma das instituições onde esses saberes são praticados e reproduzidos.
Para ele as estruturas do poder extrapolam o Estado e permeiam, ainda que de forma difusa e pouco  evidente as diversas praticas sociais cotidianas. Ouvimos dizer que os governos detem o poder. Sim, mas apenas até certo ponto. Governo não tem poder, por exemplo de determinar qual será a nova moda que mobilizara os jovens e fará circular uma quantidade incalculável de dinheiro no próximo inverno. Será então, que são os ricos que detêm o poder? Os ricos certamente têm muito poder, mas não todo o poder. Nem eles, nem ninguém. Ninguém é titular do poder, porque ele se espalha em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na casa, no mundo público e nas relações afetivas.
 Foucault insiste em sua resposta numa idéia que atravessa toda a sua obra e que vimos destacando até aqui: existe uma forte correlação entre saber e poder. Instituições como a escola, o hospital, a prisão, o abrigo para menores, etc. nem são politicamente neutras, nem estão simplismente a serviço do bem geral da sociedade. Nós que acreditamos que elas são neutras, legítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na legitimidade e na eficácia dos saberes científicos, como a pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social, que lhes dá sustentação. Foucault nos ajuda a perceber, portanto, que relações de poder onde elas não eram normalmente percebidas. O conhecimento não é uma entidade neutra e abstrata, ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência moderna se apresenta como discurso objetivo acima das crenças particulares e das preferencias políticas,alheio aos preconceitos, na pratica, ela ajuda a tornar os corpos docéis para usar outra de suas expressões.
É um poder que se faz aceito porque esta associado ao conceito de verdade "Somos submetidos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercer  o poder mediante a produção da verdade", afirma ele.
Nós estamos acostumados a pensar a verdade como independente do poder mediante porque acreditamos que ela de nada depende, é unica e absoluta. Assim sendo, temos dificuldade em aceitar idéias de que o verdadeiro é apenas aquilo que os próprios seres humanos definem como tal. Para Foucault é a crença nessa verdade que independe das decisões humanas que nos autorizar a julgar, condenar, classificar , reprimir e coagir uns aos outros. 


                                        
                                                     Michel Foucault

Indivíduos e populações
Em seus últimos escritos, Foucault dedicou-se a examinar como o poder baseado no conceito de disciplina, surgido no século XVIII, foi se sofisticando e adquirindo contornos ainda mais complexos ao longo do século XX. Ao poder disciplinar veio somar-se o que chamou de biopoder. Enquanto o primeiro tem como alvo o corpo de cada individuo, o biopoder dirige-se a massa, ao conjunto da população e ao seu habitat, a metrópole, sobretudo. Isso ocorre porque o processo de especialização, deflagrado com a divisão, exige cada vez mais que a população como um todo seja racionalmente classificada, educada e controlada para ser, por fim, transformada em força produtiva. O objeto do biopoder são fenômenos coletivos, como os processos de natalidade, longevidade e mortalidade que são medidos e controlados por meio de novos dispositivos, como os censos e as estatísticas. O biopoder mede, calcula, prevê e por fim estabelece, por exemplo, que é preciso diminuir a taxa de natalidade de determinado país. Além das politicas da natalidade, politicas de habitação social ou de higiene pública são exemplos do biopoder, que é acionado para garantir a resolução e o controle dos problemas da coletividade. Nem sempre, porem tais políticas surtem efeitos desejados.

Assimilando conceitos
1- Observe os cartazes abaixo
                                          

                                               

a) De que tratam?A quem a mensagem de cada um deles é dirigida?
b) A mensagem contida nesses cartazes está baseada em saberes especializados? Quais?
c) Há alguma relação de poder entre senso comum (saber popular) e o saber especializado nas informações dos cartazes?
d) Como essas mensagens se relacionam com o conceito biopoder de Foucault?

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